2013 10 04 porque madeira empena

Quem já passou pela desagradável experiência de ter o piso da sala empenado ou ver os tacos de madeira se soltarem, perdendo o rejunte, sabe o incômodo que essas situações podem causar. Casos semelhantes acontecem quando a porta arrasta constantemente, arranhando o chão, a janela não fecha ou a gaveta fica bamba demais.

A explicação para esses fenômenos está em uma característica inerente da madeira que faz com que ela aumente ou diminua de tamanho de acordo com a umidade relativa do ar. A madeira absorve ou libera água para entrar em equilíbrio com o ambiente externo, o que leva a alterações em seu tamanho e formato. Essa característica recebe o nome de higroscopia e também está presente no cabelo humano.

“Neste ponto a madeira é igual ao cabelo. O cabelo também é higroscópico, ele entra em equilíbrio com a umidade do ar. Quando o ar está muito úmido ele absorve água, quando está seco ele perde. A madeira também faz isso. As mulheres que fazem chapinha e torcem para que não chova entendem disso muito bem”, brinca o pesquisador do Laboratório de Produtos Florestais (LPF) do Serviço Florestal Brasileiro, Varlone Martins.

Varlone, assim como a pesquisadora Márcia Helena Marques, trabalham na área de Secagem do Laboratório. A área estuda métodos e técnicas para secar madeira de acordo com a espécie da árvore, o uso final e o local onde ela vai ser utilizada.

Os pesquisadores explicam que o teor de umidade de equilíbrio ideal para uma madeira em Belém, por exemplo, é em média 18%, o que significa que o peso de água acumulada deve corresponder a 18% do peso da madeira totalmente seca. Já em Brasília, onde a umidade relativa do ar é menor, esse teor gira em torno de 13%, podendo chegar a 9%, em meses mais secos, como agosto.

“Devido à grande variação de umidade, problemas com empenamentos ou rachaduras de madeira podem ser ainda mais comuns em cidades como Brasília. E por isso é imprescindível fazer a secagem correta, de maneira a estabilizar o máximo possível as dimensões da madeira antes de utilizá-la. Se você fizer um móvel com uma madeira úmida, essa madeira vai continuar secando ao longo do tempo e o móvel poderá rachar ou empenar”, explica Márcia Helena.

Ela cita que a secagem pode ser feita de forma natural, ao ar livre, ou artificial, em diferentes tipos de estufas onde são controladas a velocidade do vento, a temperatura e a umidade do ar. Características como a densidade e a presença de determinados extratos determinam a maneira como a madeira reage à secagem, o que também acaba influenciando em seu valor comercial.

Essa é justamente uma das explicações para o alto valor comercial do mogno. Além de outras características bem aceitas pelo mercado, como a coloração castanho-avermelhada e o fácil manuseio, o mogno possui outra valiosa propriedade: a baixa contração ao secar, que faz com que ao absorver ou perder umidade, a madeira praticamente não se deforme.

“Essas características desejáveis levam a uma seleção na exploração. O madeireiro sempre vai em busca das espécies que são mais fáceis de ser trabalhadas e assim essas espécies acabam sobre-exploradas. Se você quiser atender todo o mercado só com uma espécie, obviamente, essa espécie não vai aguentar”, explica Varlone.

Árvores como o pau-santo, a cupiúba e o louro vermelho, por exemplo, possuem uma secagem mais problemática necessitando de procedimentos específicos para produzir bons resultados. “Uma dos trabalhos do LPF é justamente definir procedimentos de secagem adequados para possibilitar o uso de uma gama maior de espécies e assim contribuir para aliviar a pressão sobre aquelas que já são muito exploradas”, concluiu o pesquisador.

Fonte – Serviço Florestal Brasileiro – Ministério do meio ambiente